O Projeto Bambu Café é um espaço para descontração, conversas e boas histórias. Este blog pode servir para as pessoas que buscam informações sobre o bambu, esta incrível gramínea que possui propriedades comprovadamente mais necessárias nesta sociedade atual. Rápido ciclo de crescimento, propriedades estruturais únicas, leveza, resistência, beleza estética própria, acabamento natural, facilidade de transporte e trabalhabilidade incomparável. Estas são apenas algumas características desta incrível planta que cada vez mais ganha espaço e admiradores.
Dos dias 22 de janeiro até 18 de março de 2010, eu ( Vitor Marçal ) estive na Colômbia, em vários locais e para diversas finalidades. Em sua maioria relacionada ao bambu. Falar sobre bambu no Brasil e falar de bambu na Colômbia são coisa completamente distintas, e só pude entender isso depois de algum tempo no país. A utilização do bambu é amplamente difundida , contudo existem muitas barreiras como normas técnicas, falta de informação e até mesmo perda de carisma pela planta, que para muitos sempre será a casa velha que viviam com os pais. O bambu na Colômbia é uma planta nativa e sua importância na econômia, paisagens e arquitetura é variada dependendo da região do país. Contudo existem lugares onde o bambu é realidade local, as fazendas tem bambuzais de perder de vista, em algumas partes é mais fácil ver a espécie de bambu nativo Guadua angustifolia do que outro tipo de vegetação. Os processos de corte, tratamento e secado estão sendo pesquisados e testados em grandes centros de aproveitamento de bambu, existem profissionais desenvolvendo pesquisas e comprovando suas características positivas.
Com a criação deste Blog pretendo divulgar algumas fotos desta viagem e talvez começar um projeto pessoal de escrever um livro sobre a mesma. Espero que algumas das informações sejam úteis e estimulem nossos pensamentos. Continuo na vida dura de quem trabalha com bambu mas o importante é estar aproveitando.
Minha jornada começou no dia 22 de janeiro de 2010. Data qual cheguei em Bogotá, cidade interessante, lembra muito São Paulo. Muita correria, gente estressada e muita mais muita obra. A cidade é bem grande e possue muito lugares interessantes de se conhecer, como pude comprovar mais tarde quando retornei à Bogotá para esperar meu retorno ao Brasil.
Fiquei em Bogotá por pouco tempo, somente uma noite, e na manha seguinte pegamos ( estavamos eu e outro brasileiro ) um ônibus para Pereira onde iriamos fazer um diplomado em Gestão Integral de Guadua angustifolia na Universidade Tecnológica de Pereira. Esta sim era uma cidade mais tranquila, mistura de cidade grande com cidade de interior. Já no caminho pude observar estruturas feitas de bambu, cada uma possuía um detalhe próprio. Um sistema estrutural diferenciado e características interessantes. Quase tudo na beira da estrada tinha bambu, desde as barracas que vendiam todos os tipos de coisas, passando pelas obras na rodovias que usavam bambu em diversas estapas da mesma, até as estruturas das pousadas a beira da cordilheira, paisagem maravilhosa para olhar durante as mais de 10 horas de viajem. O que mais me chamou a atenção durante a viajem era o aparecimento de bambuzais, ou melhor guaduais a medida que me aproximava da região central do país, conhecida por ter um terra excelente para produção agrícola, sobretudo de café. Eles começam simplórios, um pequeno bambuzal à beira da estrada, outro um pouco abaixo do barranco que parece não ter fim, um despenhadeiro que faz divisa com o acostamento. E quando menos se espera florestas de bambu aparecem, tomando conta do terreno, me fazendo lembrar o porque estava ali e que ficar num ônibus já a quase 8 horas era só o começo de uma maravilhosa viajem.
O fato de não falar e entender muito pouco espanhol foi um ponto negativo no começo da viagem. Mesmo assim os professores e pessoas que participavam do curso eram muito atenciosos e prestativos, como a maioria dos habitantes da colômbia. Por esta razão fui me adaptando e aprendendo, e desta forma pude assimilar grande parte das valiosas informações passadas nos 21 dias de curso, ou mais exatamente 120 horas de aulas. Já na universidade era possível ter um contato maior que pura teoria com o bambu. No jardim botânico que estava a 20 metros de onde tinhamos aula existia um guadual de mais de 8 hectares de Guadua angustifolia e várias estruturas usando bambu estrutural pelo campus.
Assistir o vídeo sobre o Jardim Botânico da UTP
Uma delas me chamo muita atenção, uma ponte feita por Joerg Stam que já conhecia por fotos. Diferente ver uma estrutura tão imponente, poder caminhar sobre ela e analisar suas características. Poder ver como estavam os bambus depois de quase 10 anos desde que foi construída. Isto me fez começar a entender o que significa construir com bambu, realmente representar que o bambu pode ser usado como elemento construtivo e possue muito potencial para isto. Foi uma das primeiras obras que vi mas me impressionou até o final.
Assistir o vídeo da construção da ponte
Video \”CAMINHE SOBRE A PONTE ATUALMENTE\”
Na universidade de Pereira pude começar a entender porque sempre que procurava alguma literatura na internet a mesma sempre citava a Colômbia, ou algum estudioso colombiano. Na Colômbia o bambu Guadua angustifolia é nativo e segundo alguns conhecedores que tive o prazer de conhecer, era uma planta que dominava a vegetação local. Em tanta abundância este material foi usado para a produção de praticamente tudo. A cultura do bambu é muito antiga na região central do país, e como o bambu é um material de fácil acesso às populações interioranas e de baixa renda, muitas constroem suas casas usando este material.
A algum tempo as características positivas do bambu já foram observadas e estão sendo testadas e certificadas por entidades em todo país. Havia em processo de finalização uma norma técnica colombiana para estruturas de até 2 pavimentos usando bambu com função estrutural. E em algumas universidades que tive o prazer de conhecer haviam muitas pesquisas, material didático e projetos sobre Guadua angustifolia. Em uma delas , a universidade Uniandes em Bogotá, pude ver um bambuzal de Phyllostachys aurea plantado no sétimo andar do edifício sede da mesma.
Na própria universidade tecnológica de Pereira existiam pesquisas sobre plantio, mapeamento de guaduais nativos, reprodução en vitro, formas adequadas de manejo, produção comercial de colmos, sistemas de tratamento e secagem, e estudos sobre o ciclo produtivo do bambu, em relação a organizar e confeccionar uma legislação adequada ao cultivo de bambu. Com estas pesquisas podem ser obtidos os percentuais anuais de manejo adequado para um bom mantenimento de produção, adubação necessária, investimentos iniciais e anuais subsequentes, taxa de rendimento de um guadual comercial, etc…
Contudo minha real intenção era aprender sobre o uso do bambu na construção civil, já que trabalho com isso. Mesmo tendo aula com o engenheiro Luiz Felipe Lopez, responsável pelos projetos de Simon Velez, e com o maestro Joerg Stam, a carga horária destinada para este fim foi muito baixa, deixando uma sensação de vazio, que foi preenchida aos poucos por encontros posteriores com estes e outros profissionais, chegando a uma experiência final em relação à utilização do bambu estruturalmente falando que compensou toda a espera.
Mesmo o curso na UTP não tendo abordado de forma profunda a construção, ainda assim o conteudo foi muito completo em outras áreas como tratamento, secagem, morfologia, taxonomia e industrialização. A parte de industrialização demostrou de forma bem esclarecedora e concreta o potencial do bambu como elemento produtivo, seja por processos mais complexos de industrialização ou seja pelo uso mais racional do material e tecnologias não tão caras.
Como nos fins de semana não tinhamos aula, sempre se formavam grupos de participantes do curso para conhecer regiões e ponto turísticos próximos à Pereira. O transporte publíco da região era um pouco desorganizado, ônibus mais novos e alguns antigos, contudo as rodovias são muito boas. As distâncias entre as maiores cidades da região central do país é em torno de 100 Km.
Continua…